sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Morreu Umbral. Luto de letras ...

Há cerca de três anos li, com desesperante avidez, " Mortal e Rosa ". Uma obra soberba, feita de ironia e sofrimento que se cola à pele e nos põe de luto. Que quase nos castiga.
Nestas férias voltei a pegar em Umbral ... li, com enorme gozo, "E como eram as ligas de madame Bovary ? ", editado pela Campo das letras em 2005, um desfiar de retratos irónicos e deliciosamente anedóticos que nos falam " do cabelo verde de Baudelaire, do falhanço de Stendhal, dos pecados de Clarín, da cozinheira de Proust, da orelha de Van Gogh, do namorado de Oscar wilde, do surrealismo burguês de Magritte ou das ligas de Madame Bovary. Um percurso de grandes figuras, figurões e fetiches literários do autor, onde não faltam KafKa, Cocteau, Dali, Dora Maar, Kipling, Joyce, Viginia Woolf, Simenon, Sartre, Juan Rámon Jiménez, Graham Greeen, Eugenio d`Ors, Cela ou Saramago ".

Há, na escrita de Umbral, uma espécie de malícia que nos fustiga (sobretudo ás mulheres). Chega a ser irritante. É uma escrita com nervos.

Ambos os livros foram traduzidos de castelhano para português por Carlos Vaz Marques.
A propósito ...

Carlos Vaz Marques: Francisco Umbral conjugava lirismo com cinismo



terça-feira, 28 de agosto de 2007

Acreditei em tempos que o mundo estava basicamente dividido entre dois tipos de pessoas: aqueles que eram de um modo geral tolerantes e os que se sentiam ameaçados pela diferença. Se as forças da tolerância conseguissem vencer as forças da intolerância, pensava eu, o mundo poderia finalmente conhecer alguma paz.Mas havia um problema com a minha teoria, e nunca tal fora tão claro como numa conversa com um amigo paquistanês que me disse que abominava pessoas como o Presidente Bush, que insistia em dividir o mundo entre “nós” e “eles”. O meu amigo, é claro, tomava uma posição inocente contra a intolerância e não percebeu que, ao fazê-lo, ele próprio estava também a dividir o mundo entre “nós” e “eles”, caindo exactamente no campo das pessoas que dizia abominar.Esta é a versão política de um famoso paradoxo formulado por Bertrand Russell em 1901, que na época abanou os alicerces lógicos das matemáticas. Qualquer pessoa que diz ser tolerante naturalmente se define a si própria em oposição àqueles que são intolerantes. Mas isso faz com que essa mesma pessoa seja intolerante em relação a certas pessoas – o que acaba por invalidar a afirmação de tolerância.A lição política do paradoxo de Russell é que não existe tolerância absoluta. No fim de contas, é necessário poder ser intolerante em relação a certos grupos ou ideologias sem renunciar à superioridade moral normalmente ligada à tolerância e à inclusão. Deve-se, na verdade, condenar e resistir a doutrinas políticas que advogam o assassínio de inocentes, que minam as normas básicas da civilização, ou que tentam tornar impossível o pluralismo. Não pode haver equivalência moral entre aqueles que procuram – mesmo por vezes desajeitadamente – construir um mundo mais livre e tolerante, e aqueles que defendem a aniquilação de outras religiões, culturas ou estados.Tudo isto vem a propósito do meu filho, Daniel Pearl. Graças à estreia do filme A Mighty Heart, o filme baseado no livro homónimo de Mariane Pearl, o legado de Danny está novamente a merecer atenção. É claro, nenhum filme poderia captar exactamente o que fazia de Danny uma pessoa especial – o seu sentido de humor, a sua integridade, o seu amor pela humanidade – ou por que razão ele era admirado por tantos. Para os jornalistas, Danny representa a coragem e a nobreza inerentes à sua profissão. (...)*

* Excerto do artigo " relativismo moral " escrito por Judea Pearl, matemático e professor universitário, pai de Daniel Pearl, o jornalista do Wall Street Journal, assassinado brutalmente pela al-Qaeda no Paquistão, em Janeiro de 2002 (tinha 38 anos). Este artigo foi publicado na edição impressa da revista The New Republic. O filme, que está em fase de lançamento nos Estados Unidos, estreará em Portugal em meados de Setembro próximo.

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Passo assiduamente nesta rua mas, desta vez, decidi ficar mais algum tempo. Decidi entrar na conversa que se faz urgente. Ainda com as orelhas quentes da entrevista de ontem, feita pelo jornalista Mário crespo - SIC notícias, a Gualter Baptista do GAIA e da VERDE EUFÉMIA, mas isso é outra história ! Um fenómeno de transgenia ontológia ...
Só quando alguém nos entra no quintal é que começamos a pensar ? Se calhar é assim, porque só quando entramos no quintal do outro é que somos notícia ...
e ... isto também é grave, mesmo muito grave !

A palavra perdeu poder ? Agora é ao pontapé ?

Gosto do diálogo, da discussão pública, gosto de acreditar que é a busca activa do conhecimento do outro que relativiza positivamente as diferenças, que nos espanta, que nos encanta, que nos humaniza, que amacia a vida, que promove a inclusão, que dilui os guetos.
Porém, hoje, confesso-me desiludida ...
Tornei-me intolerante para com a palavra tolerância.
Penso que temos que ter uma atitude mais pró-activa (como agora se usa dizer ...)
Temos que inventar outras palavras mais assertivas, mais comprometidas.
O termo tolerância está gasto ! Cito este artigo porque me revejo inteiramente na perspectiva do autor. Somos diariamente confrontados com o cinismo da condescendência, com o pseudo relativismo da indiferença, com a ambiguidade do termo " tolerância ".
Quem tolera quem ? Quem tolera o quê ? Porquê ?
A tolerância é, em si mesma, arrogante e paternalista. Resulta de uma assimetria de poder.
A dita "tolerância" lesa cinicamente a democracia, chega a ser ingrata, ao demitir-se de fazer valer regras e valores fundamentais, que outros nos legaram com o sacrifício extremo da própria vida.


Vou ver este filme ...

segunda-feira, 27 de agosto de 2007



A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.





" UMA ARTE "

Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa

"Quero chorar meu sofrimento e digo-o
para que tu me queiras e me chores
num poente de rouxinóis cantores,
com um punhal, com beijos e contigo.


Quero matar o único testigo
do assassínio destas minhas flores
e converter meu pranto e meus suores
num eterno montão de duro trigo.

Que não se acabe nunca esta madeixa
do quero-te e me queres, sempre encendida
com lua velha, com sol que se queixa;

Coisa que negas, por mim não pedida,
para a morte será, que jamais deixa
nem sombra pela carne estremecida."

" O poeta diz a verdade "

in "Sonetos del amor oscuro"

Frederico Garcia Lorca

(Tradução de José Bento)

O poeta foi assassinado num fatídico Agosto (1936)

domingo, 26 de agosto de 2007

Eduardo Prado Coelho (1944-2007)
Polémico . Culturalmente activo . Sabedor.
Sportinguista. Ser total (mente) inquietante. Desconcertante.

Assim, rendido à paixão ...
" Sei apenas que sofro absurdamente quando o Sporting está a perder e que partilho a alegria de todas as vitórias ( ... ) "


30-05-2005 - O jogo, antes e depois
21-06-2005 - O naufrágio (do Sporting na época 2004-2005)
10-08-2005 -
A pré-história da minha ida ao futebol
04-10-2005 - Fado (sobre a crise no Sporting 2005-2006)
23-05-2006 -
A derrota
08-06-2006 - Dispersos
26-06-2006 - Jogos com fronteiras
27-06-2006 - O país em guerra
01-09-2006 - Crise no futebol
05-09-2006 - E viva o futebol!
14-09-2006 - Assim vale a pena
30-01-2007 - No terceiro lugar



Ver aqui video de homenagem no Famafest.


Fotografia de Hyam Yared

" Figuras de diário, fragmentos, relances, imagens, são sempre dejecta membra de um corpo que se vai desfazendo, ficando pelo caminho, contagiando, multiplicando-se. Que pode interessar a outros esta dispersão do microcosmos do meu conhecimento, da minha experiência? Pouco, eu sei - mas andamos todos tão distraídos do nosso pó que pensei que seria razoável reunir algum do meu, e soprá-lo. Talvez passe por aqui algum sentimento poético mas parece haver algo mais, e mais fundo, e que decerto passa, o sentimento trágico. Para o qual, muitas vezes o silêncio é que devia ser a palavra. Um silêncio que se colha e possa circular entre dois mundos, o do corpo pessoal e o do corpo mais vasto, o da matéria entusiasmada que me prolonga. "


Casimiro de Brito

in " Na barca do coração " (um diário no ano 2000 e uma colecção de poemas), ed. Campo das letras, 2001

sábado, 25 de agosto de 2007

Congresso Internacional de História Oral

De 26 a 28 de Outubro

Vai realizar-se, nos próximos dias 26, 27 e 28 de Outubro, o I Congresso Internacional de História Oral, a ter lugar no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett e no Palácio de Cristal, no Porto.

Sob organização do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - FLUP - , com a realização deste evento pretende-se chamar a atenção do público português para uma disciplina desconhecida por muitos, mas fundamental para perceber a compreensão do passado mais recente. A História Oral destaca-se enquanto metodologia de recolha de memórias ‘vivas' através de entrevistas gravadas, baseando-se nas experiências de vida únicas de cada indivíduo. É uma História vivida e contada na primeira pessoa - uma História Viva -, que permite traçar uma imagem mais rica e completa do passado, explorando aspectos da realidade histórica normalmente não documentados. Realidades que vão estar em discussão num congresso em que marcarão presença figuras cimeiras internacionais da História Oral e investigadores portugueses que exploram esta área do saber. O objectivo é reflectir com todo o rigor científico sobre a História Oral, fazendo um balanço da sua trajectória passada, e equacionando o futuro a partir dos seus desenvolvimentos recentes.

Para mais informações consultar: Gabinete de Eventos e Relações com o Exterior da FLUP Telefone: 22 607 71 05

Email: mmoreira@letras.up.pt

Programa

Ficha de Inscrição

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

OUVIR Menino do rio by Joao Gilberto

Fotografia : Troia - Caldeira 2007


Menino do rio

(Caetano Veloso)

Menino do rio, calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço,
calção corpo aberto no espaço
Coração de eterno flerte, adoro ver-te
Menino vadio, tensão flutuante do Rio
Eu canto pra Deus proteger-te
O Hawaí seja aqui, tudo o que sonhares
Todos os lugares, as ondas dos mares
Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo
Menino do rio, calor que provoca arrepio
Toma esta canção como um beijo





segunda-feira, 20 de agosto de 2007

ENCONTRO ANUAL DO ICOM

20 - 22 August 2007
Vienna (Austria)


Annual Meeting

Theme: "Managing a Finite Resource - Balancing Conservation and Use of Collections"
"Gérer une ressource limitée - Trouver un équilibre entre la conservation et l'utilisation des collections"
"Gestión de un recurso limitado - equilibrio entre la conservación y el uso de colecciones"

Contact: Hochschule für Angewandte Kunst bzw. Hochschule für Bildende Kunst? Martina Griesser-Stermscheg? Tel. +43/ (0)1 / 71133 - 4810 Fax +43/ (0)1 / 71133 - 4819
Email: martina.griesser@uni-ak.ac.at

sexta-feira, 17 de agosto de 2007


World Press Photo 2007 no Museu da Electricidade, em Lisboa, até final de Setembro. Este ano celebra-se a 50.ª edição do mais importante prémio mundial de fotojornalismo.


Veja aqui
algumas das fotos vencedoras do concurso do ano passado

quinta-feira, 16 de agosto de 2007




Figueira
ó árvore que irrompes da tua secura
suportando o penoso desdobrar de teus ramos
amaldiçoada
ofereces ainda a doçura de teus frutos
a sombra de tuas folhas
a firmeza do teu apego à terra

Ó dura bruta forma
heroína da escassez
ó teimosa
que insistes e insistes
e nos ensinas
que a vida é feita de incessantes mortes
e que a nós
suas futuras vítimas
nos aguarda
a todo o momento
a derrocada do templo
sem nenhum outro fruto
além da amargura

Ó doçura
porque amargas tanto
a nossa tentação de florir
ao mesmo tempo sendo tudo
e nada ?

Ana Hatherly, Rilkeana

terça-feira, 14 de agosto de 2007


Festa de Nª Srª do Rosário de Troia (Caldeira - 2007)
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No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo
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Luxemburgo, Rosa
in " Cartas da prisão "

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A Maria Miguel em acção ...
Para memória futura





Agosto 2007

Festa de Nª Srª do Rosário de Troia (caldeira)



Ao consultar o arquivo das imagens desta festa, realizadas no ano passado, arrepiei-me quando vi que tinha uma fotografia exactamente igual a esta ! Ou seja, os mesmos barcos, na mesma posição, captados por mim sensivelmente à mesma hora, neste mesmo sítio.

O mesmo deslumbre. O mesmo alinhamento ...

Voltarei a encontrar- (me) com esta simetria " azul-festa " fustigada pela brisa do Sado ? voltarei ? E ... eles, voltarão ?
Vou esperar, em silêncio, para não quebrar o encanto . . .
Vou fazer de conta que o nosso encontro é pura coincidência.

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O encontro de uma objectiva ama-dor-a com dois barcos azuis, no mesmo sítio, à mesma hora, um ano depois.
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OXALÁ ! (gosto tanto desta palavra ...)
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Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos

Victor Hugo
in citador

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Fragmentos. ruínas. estórias. memórias. sínteses individualizadas da História ( ? )

Gostei deste livro, onde História e estórias se entrelaçam com paixão e dor.
"(...) Magda saiu do quarto de banho envolta no roupão e estendeu-se ao lado dele, abraçando-o pelo peito. - Em que pensavas, enquanto eu tomava banho ? - segredou-lhe ao ouvido. - Nos dias que vêm ou em mim ? Nestor abriu-lhe o roupão, puxou para si o corpo fresco e perfumado e, boca com boca, murmurou: - Pensava que tu és o meu destino ... Sentiu-se sugado por uma força irresistível que o atraía inelutavelmente para as profundidades de um lago de águas azuis e calmas, e deixou-se ir como num voo, cada vez mais longe, cada vez mais fundo ..."
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Leonel Cosme
in A Separação das Águas (Angola 1975-1976) pag. 246, 1ª edição, Julho 2007

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Os meus 10 mais ...

Respondo assim ao desafio que me foi lançado pelo Lauro António Apresenta , Ana Paula e pelo Detesto Sopa "m".

Normalmente, nas férias de Verão, não vou ao cinema. Perco-me noutras aragens. Gosto de sentir que o tempo escorre lento e livre ... sem programas nem destinos. É tempo de ler, de deambular, de conversar ... de apreciar. Sobretudo de apreciar ...
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Abri aqui uma excepção. Esta " ida ao cinema " foi especial. Soube-me bem, não precisei de sair do sítio onde estou. Bastou-me fechar os olhos ...

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http://10daminhavida.blogspot.com/


- Morte em Veneza - L. Visconti
- Dogville - Lars Von Trier
- A janela indiscreta - A. Hitschock
- 1900 - B. Bertolucci
- Andrei Rublev - A. Tarkovski
- O pianista - Roman Polanski
- Dersu Uzala - Akira Kurosawa
- Persona - Ingmar Bergman
- Paris, Texas - Wim Wenders
- O Império dos sentidos- N. Oshima
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Também gosto infinitamente de David Linch - " Uma história simples " e de outros ...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

“Eu, aprendiz da ciência da vertigem,/
é pelo leve vínculo da cegueira/
que desço aos pressagiados abismos.”


"Aos olhos daqueles que me não conhecem, mesmo aos daqueles que conhecendo o homem desconhecem o poeta, passarei por intratável, ou coisa pior, como por intratável é tido o autor desse monumento que são os «Exemplos», João Vário, o mais notável poeta cabo-verdiano desde Eugénio Tavares, pai da moderna lírica crioula. Dizia que aqueles que me não conhecem achar-me-ão isso - tudo porém em nome duma fidelidade tão intransigente quanto consciente, porque um poeta que não é uma inconveniência social é apenas um reprodutor da ordem vigente, mesmo se comprazendo em sofisticados jogos de máscaras; porque um poeta que não sabe que a vida é sempre noutro lugar — não confundir esta exigência de superação com qualquer primarismo messiânico — é apenas um jogral de salão, cabide onde o mundo pendura as suas honrarias."

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

AMOR, GUERRA, POESIA ...


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Um filme belo sobre o amor, não aquele que é imutável mas aquele que é inelutável.
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“Cada pessoa é um abismo. Ficamos com tonturas só de olharmos para baixo.”
JEAN RENO (Fuad)
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